terça-feira, 31 de maio de 2011

Uma conversa abstrata.


Amor: Prometa que não vai desistir de mim.


Eu: Só desistirei se você desistir de mim.


Amor: Eu não desisto de ninguém. As pessoas que desistem de mim.


Eu: Porque você às vezes parece não existir.


Amor: Todos os dias eu bato na porta de alguém. Eu tô por aí o tempo todo! As pessoas que não tem olhos sensíveis pra mim. Você acredita que eu existo?


Eu: Sim, eu estou falando com você.


Amor: Você pode ser louca.


Eu: Eu já te vi, Sr. Amor. Você já passou algumas vezes por aqui. Não era você?


Amor: Algumas vezes, sim.


Eu: Por quê não ficou?


Amor: Eu fiquei. Eu nunca vou embora. Às vezes, fico em caixas, em gavetas, em cartas. Às vezes, fico em perfumes, em músicas. Às vezes, fico só em lembranças. Outras, fico como cicatrizes. Mas não sou eu que firo. Muitas das vezes são as pessoas que ferem. E são elas que vão embora. Algumas delas não sabem o que fazer comigo. Eu acho que as assusto.


Eu: Por quê?


Amor: Porque eu sou maior que elas. Porque eu posso revelar as suas fragilidades, sua dependência de mim. As pessoas querem aparentar ser independentes. Eu posso deixá-las completamente nuas, desarmadas. A minha presença pode trazer à tona todos os teus medos.


Eu: E todas as tuas dores...


Amor: Já disse que não sou eu.


Eu: Que seja. Mas que há dores, há. E por isso, algumas pessoas te acham uma farsa.


Amor: Essas pessoas são as que não entendem que pra se ter coisas boas, tem que fazer sacrifícios. Assim, pra me ter, tem que haver sacrifícios. Tem que sacrificar o ego, a individualidade, a suposta vidinha isenta de infelicidades sem mim. Mas de felicidades também. Se há dores no (des)encontro comigo, sou eu o único que pode curá-las. E se elas são intensas, é porque do grande só pode vir o grande. O pequeno não faz parte de mim. Sem mim, só há o vazio. Quem quer uma vida rasa e sem riscos, não abre a porta pra mim.


Eu: Sem você, não há nada?


Amor: Não.


Eu: Tudo gira em torno de você?


Amor: Sim.


Eu: Como você é egocêntrico, Amor.


Amor: Todos os deuses são.


(Silêncio)


Eu: Sabe Amor, você pode ter razão: talvez eu seja louca.


Amor: Por quê?


Eu: Porque só sendo louca pra abrir a porta pra você.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Foi quando eu senti, mais uma vez, que amar não tem remédio."

título: Caio Fernando Abreu.
  
Não tem xarope, aspirina, chá, injeção, cirurgia, tratamento que me cure de sentir, pensar, querer amor. Que importa? Eu não quero cura. Eu quero amor mesmo. Eu quero nunca perder a capacidade de senti-lo. Eu quero perder o controle algumas vezes por causa dele. E depois recuperá-lo. Eu quero perder a paz vezenquando pra depois me acalmar. Eu não quero uma vida fria como a que é vazia de amor. Eu quero um amor quentinho pra me esquentar no inverno. Eu aceito qualquer condição pra tê-lo. Aceito me doer às vezes. Ao contrário do amor, a dor tem remédio. O amor não tem, porque ele próprio é o remédio. Desde que se saiba seguir a bula. Tomar a dosagem certa (qual seria?). Contra-indicação não tem. É recomendável a todos. De qualquer idade. Doente ou não. E há um monte de farmácias por aí com o estoque cheio dele, outras nem tanto. O problema é que às vezes a gente entra nas que não tem estoque suficiente pra gente.

domingo, 29 de maio de 2011

"Porque nada do que possa se passar no coração humano é vergonhoso."


E nem relatar sobre. Vergonhoso é não ter o que relatar. Não ter lembranças, não ter histórias, não ter dores. Não ter amores. Sejam eles imperfeitos, platônicos, clichês, mal-resolvidos, intensos, bregas, longos, curtos... Vergonhoso é ter vergonha de já ter tido o coração partido. Vergonhoso é ter vergonha de querer ter, de esperar, de acreditar em um amor todinho nosso. A gente tem que ter vergonha de não ajudar um senhor a atravessar a rua, de ver alguém ser ofendido e não se encolerizar, de fazer trapaça. Agora, ter vergonha de ter sentimentos? Deixamos pra ter vergonha do que é realmente feio.

"(...) eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir."*

E você?

* Título e frase de Caio Fernando Abreu.
* Pequeno texto de minha autoria.