quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Aquários apertados


Observando aqueles peixes no aquário, condenados a nadarem entre aquele espaço limitado por paredes de vidro, sem irem além, vivendo em círculos, foi então que ela percebeu que ao contrário do que costumava dizer, ela não era um peixe fora do aquário, ela era um peixe dentro do aquário. Não indo muito além dessas paredes de vidro pelas quais via o mundo lá fora. Concluiu então que a sua relação com o mundo tinha tornado-se apenas de ver, e não de estar. Ela não estava mais no mundo. Estava no aquário apertado, tão cansada de seu reflexo nas paredes de vidro, que já não havia mais reflexo. Pensou 'será que os peixes se indagam  sobre o seu estar no aquário?'. Pois é tão triste. Habitada por tubarões interiores que a jogavam em águas escuras, desejou um dilúvio. Que um deus em posse de uma jarra enchesse o seu aquário até transbordar. Ou em posse de um martelo quebrasse as paredes de vidro. Tanto faz, apenas queria sair do aquário e nadar em outras águas. Ela queria o mar. Ela queria o maior. Ela queria estar no mundo. Pensava em como outrora teu aquário tinha sido maior. Ou como ela tinha tido a ilusão de que ele era maior. Mas tantas dores o apequenaram. É que além das paredes de vidros, havia outras paredes que a separavam do mundo. Ela não sabia comunicar-se com ele. Ela só sabia olhar. Embora, diversas vezes não entendesse o que via. Pensou então que talvez os peixes também não entendessem. Pensava que viver fosse isso: não entender. E tua incompreensão era tão vasta que desejava algo tão vasto quanto. Ela queria o mar. Sua natureza era o mar. Sua natureza era amar. E amar também era não entender.

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